quarta-feira, 22 de junho de 2011

Saudades

Na rua havia dois tiozinhos tocando viola. Estava passando batido quando percebi a presença daqueles velhinhos sentados em seus respectivos banquinhos no meio da rua cantando e tocando "Chico Mineiro", sem ninguém para prestar atenção. Comovido, parei para ouvir o verso final dessa belíssima canção. Quando terminaram, alguma alma caridosa aplaudiu e continuou seguindo seu caminho. Então me aproximei, enfiei a mão no bolso e dali tirei uma moeda para arremessá-la no chapéu colocado no chão entre os dois artistas de rua. Um deles me agradeceu enquanto o outro continuava entretido afinando o violão. Parabenizei-os pela boa música e parti apressado para o trabalho sem ouvir a próxima canção.

Voltei para o trabalho pensando no meu avô paterno e de sua inseparável viola, das tardes que passava ouvindo ele tocar com maestria sua violinha. Os cabelos brancos, os dedos hábeis, seus pijamas que ele usava a todo momento.  Homem simples de hábitos simples. Não tinha boca pra nada. Nunca alterava sua voz. Viveu sua vida pacata imune as influências do mundo. Assim foi meu avô.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Debates e mais debates

Os embates estão na moda. Escolha seu lado, vista a camisa e pau na máquina:


Esquerda X Direita:  predominou durante os oito anos do governo Lula. Com fanáticos de ambos os lados, principalmente os de direita, maioria na mídia e na internet, os embates se perdiam invariavelmente em devaneios e xingamentos. A guerra fria permanece no imaginário das pessoas. 

Religiosos X Céticos: esse nunca saiu de moda, porém, a internet ajudou a propagar a loucura em torno do fanatismo religioso. E como toda reação proporciona uma reação de igual intensidade e efeito contrário, heis que surgem os fundamentalista ateus. Sabe aquele velho ditado que diz que não faz sentido brigar com bêbado? Então, esse povo tenta convencer o religioso de que Deus não existe. Haja saco.

Politicamente Corretos X Politicamente Incorretos: Essa é a bola da vez. Dizer que o mundo está politicamente correto demais e que na minha época  não era assim blá blá blá...virou lugar comum. Contar uma piada de mau gosto só para parecer "superiormente politicamente incorreto" faz o cara se sentir um verdadeiro revolucionário, quando, na verdade, não passa de um bunda mole, sem muita imaginação, metido a "sou da turma do fundão, olha como sou foda", a fazer sucesso com outros cuzões iguais a ele. Já os politicamente corretos se dividem em dois tipos: aqueles que realmente vislumbram um mundo melhor, lutando contra o preconceito e as injustiças, mas sem perder o humor e o equilíbrio, e os politicamente corretos chatos, que apenas querem ser do contra. Ah sim! existe um terceiro tipo, os falsos, que são os pertencentes ao ambiente corporativo. Quer algo mais politicamente correto do que a aparência do  ambiente corporativo? Disse aparência...Essa coisa de vestir a camisa, de atender ao cliente com máxima eficiência, de ser pró ativo, à favor da sustentabilidade e etc e tal . Tudo isso para inglês ver, pois não existe ambiente mais filha da puta e repleto de trairagem do que o corporativo. Em qualquer empresa todo mundo só pensa em passar a perna em todo mundo para subir na vida. Tá ai um exemplo de como essas coisas se confundem. A dicotomia só existe no discurso.


sábado, 18 de junho de 2011

Fumaça Caótica Composta de Espermas



A vida é um convite ao fracasso. Thomas Hobbes não estava brincando quando disse que o homem é o lobo do homem. E os contratos sociais de nada valem uma sociedade corrompida. Quando todos tem a obrigação de vencer, sobram perdedores. E quando as regras do jogo não são bem definidas e aplicadas na medida certa, o mérito não é o princípio para a vitória. É nesse cenário de injustiças que as coisas se agravam e o subproduto dessas distorções é a miséria, a degradação humana. Sendo assim, Hobbes só se esqueceu de mencionar a escória desse ecossistema, a matilha de cães sarnentos a lamber as próprias feridas. Aqueles que não são lobos, são cães suicidas. Falo dos fracos, que não tiveram forças para lutar, se entregando as próprias fraquezas. Dos que se perdem na vida para sempre, enterrados num buraco escuro cavado no asfalto que leva aos subterrâneos sombrios tomados pelo esgoto fétido e por ratos famintos. Pessoas assim estão abandonadas a própria sorte, sem Deus para olhar por elas, e o próprio diabo sentindo pena...



Seus olhos, não havia vida naquele rosto. Era um trapo humano de pernas grossas e quadril largo.Tudo escuro, sem iluminação na rua. No mais completo breu, ela permanecia sentada no degrau com os olhos vidrados. Conversava com seu interlocutor sem olhar para ele. Vai com ela? Essa faz tudo sem camisinha, disse a outra, com ar de deboche,  que parecia "normal". Quanto? Dez. Sentada em posição fetal,  balançava seu corpo para frente e para trás como se fosse uma autista. Onde? Ai na frente. Sem tirar os olhos do vazio apontou para o outro lado da rua. Era um prédio semelhante a um cortiço, escrito hotel na frente. A garota levantou-se, suas pernas expostas na noite fria. O resto do corpo coberto por uma malha encardida cuja cor não era indentificável. A porta de aço atrás da garota denunciava que ali funcionava um estabelecimento comercial durante o dia. Atravessaram a rua escura por onde não passavam carros, apenas vagalumes de cachimbo pipocavam aqui e ali, nos cantos, nas entranhas mais profundas à distância onde os vagalumes se multiplicavam. No céu, as nuvens encobriam a lua naquela noite fria. Subiram as escadas. Na recepção não exigiram documentos, apenas o pagamento. Cinco reais. Tem cigarro ai? Três cigarros e uma chave. A garota precisava fumar. No corredor , dois africanos discutiam rispidamente em sua língua nativa. Gesticulavam e falavam alto emitindo um som aglutinado. Um era alto e magro, o outro era forte e um pouco mais baixo. Ambas cabeças negras sem cabelo. O homem é o lobo do homem.

O casal seguiu pelo corredor estreito sem que fossem notados pelos africanos, pisando em assoalho de madeira. Número 32 pintado com tinta preta na porta de madeira corroída. Entraram no quarto. A garota colocou dois cigarros sobre o lençol encardido e, com as mãos trêmulas, acendeu o terceiro. A fumaça se fez presente. Oposta a parede da porta havia uma janela aberta que dava para uma parede de tijolos imersa na escuridão, único ponto de fuga para a fumaça. Mas ele parecia não se incomodar com o cheiro de cigarro. As mãos impacientes do cara subiram a blusa da garota enquanto ela fumava indiferente. Seus seios foram descobertos, bonitos e inchados de gestante, sua barriga gestante. Uns cinco meses, talvez. Ela estava grávida. Ali naquele quarto havia, portanto, três vidas, três cigarros e nenhum destino.


A segunda lei da termodinâmica, determina que a entropia total de um sistema isolado tende a aumentar com o tempo e, portanto, a sua desordem tende a aumentar. A desordem está relacionada ao número de restrições impostos ao sistema, sendo assim, em tese, quanto maior for o número de restrições, mais facilmente ordenado ele será. A grosso modo, num sistema "solto", com poucas regras, serão maiores as combinações possíveis entre seus elementos gerando um aumento do grau de desordem interno desse sistema. Sendo assim, a desordem, no sentido científico da palavra, é o que faz o universo existir, caso houvesse pouca ou nenhuma desordem, o universo seria estático. O caos possibilitou uma amplidão de combinações entre os elementos do universo, gerando, entre outras coisas, a vida. Portanto, devemos nossa insignificante existência a desordem do mundo. A fumaça desordenada de um cigarro quando sobe, é o símbolo da desordem no sentido probabilístico. A impossibilidade de prever a dispersão da fumaça do cigarro é o que dá graça a vida. A busca da padronização da fumaça e do caos é o que faz do homem um ser pensante. Então um salve para o Deus da desordem e do caos.


Quando o pau duro penetrou a buceta com a jovem garota de quatro, ela continuava fumando, com o braço esquerdo apoiado na cama e o direito a manejar o cigarro. Parte  da fumaça se dispersa em direção ao teto e outra  parte em direção a janela do muro negro, espalhando espermatozoides pelo ambiente ao invés de nicotina.,ao invés do cu do mundo, a buceta do mundo sendo fecundada pelas moléculas da nicotina. Pof pof pof  A bunda grande era um convite ao tesão. A cada estocada  mais forte, a bunda balançava, o feto balançava. A certa altura, ele retirou o pau e mandou que ela se sentasse. Tudo terminado.


Lá fora, o vento soprava frio. Na rua, um exército de zumbis com seus cachimbos e cobertores imundos enrolados em torno do corpo, perambulavam pra lá e pra cá, como espermatozoides acumulados caoticamente numa gota de esperma no chão, a espera do fim.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Libertadores

Hoje torci para o Santos...perder. Adoraria ver uma partida entre Barcelona e Santos, porém não esse Santos   burocrático e dependente do Neymar, mas o Santos do primeiro semestre do ano passado, arrasador e implacável. Quero ousar acreditar que nem o Barcelona seria páreo para aquele time do Santos, que mesclava um futebol coletivo primoroso com o talento individual de Neymar e Ganso. O tempo passou e o Santos virou um time comum, que prioriza a marcação espartana deixando a parte ofensiva sob a responsabilidade praticamente exclusiva do Neymar. Já o Penarol me lembra o grande Pablo Forlan. Portanto, rumo ao tetra, Penarol!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sono

Dormi essa noite num flat, algumas poucas horas dormindo no quarto de um flat. Isso pode parecer completamente desinteressante e nonsense para o leitor, acontece que para mim foi algo inusitado. Primeiro, porque há cerca de doze anos, trabalhei na rua onde está localizado esse flat.  Então ele me traz lembranças e um mau pressentimento. Segundo, porque se eu não fosse cético, diria que o tal flat é mal assombrado. Já havia entrado nele, porém, nunca havia dormido nele. E ontem (hoje) tive essa experiência. Eu dormi sozinho.

Quando abri a porta me deparei com a escuridão. Não acendi a luz. Alguma claridade entrava pela fresta da janela da sala. Caminhei em direção a janela onde, do lado direito, ficava a geladeira a qual abri para pegar água gelada. Só fui acender a luz quando entrei no banheiro. Tomei um banho e fui dormir. Antes dei uma espiada pela janela do quarto para observar a rua lá em baixo. Algumas pessoas andando, carros. E o silêncio. Então me recolhi. Dali três horas se passaram até que o dia clareasse e eu tivesse que partir. Tudo normal. Não ouvi barulhos estranhos e nem vi fantasmas. Sequer tive pesadelos.

Gostaria de ainda estar dormindo lá nesse exato momento, mas infelizmente tenho minhas obrigações. Tendo que lidar com a realidade bem mais assustadora do que assombrações do imaginário. O sono toma conta de mim. Os minutos duram horas e as horas séculos. Faria de tudo para estar naquele flat agora, nem que fosse repleto de  fantasmas, tudo para fugir dos assombros da realidade e curtir umas boas horas de sono.


quarta-feira, 25 de maio de 2011

Uma noite encantadora na locadora de mulheres






Era uma noite de sábado, não me lembro exatamente porquê? mas estava na fossa, e quando nela me encontro, ao invés de procurar sair dela, me afundo cada vez mais para dentro.

Subi as escadas como quem sobe a escadaria de um santuário sagrado, a passos carregados de tensão, degrau por degrau. Que eram poucos mas que pareciam muitos. Chegando no último degrau havia uma porta de vidro. Do lado de fora se ouvia música sofrível, ao atravessar a porta a música ainda mais alta e terrível. Porém a música não seria a pior parte da noite. Respirei fundo e entrei. Do lado esquerdo um balcão de bar e atrás dele um cabeludo mal encarado, do lado direito cadeiras de plástico velhas que circundavam a parede e no meio, entre a parede com cadeiras e o bar do cabeludo, o palco para shows. O palco era em formato retangular, com um metro e meio de altura, por cinco de comprimento e uns três de largura. Espaço diminuto, porém, suficiente para as belezuras realizarem sua arte.


Num canto um homem com cara de quem não tomava banho a dias, com barba comprida e branca, roupas velhas e camisa de flanela. Calçando mocassim e vestindo calça social de cobrador de ônibus, bebia e ria, acompanhado de uma mulher obesa e feia. Em cima da mesa, cerca de uma dúzia de garrafas de cerveja vazias. Aquelas duas figuras, aparentemente grotescas aos olhos da sociedade, exalavam uma inexplicável felicidade sublime, como se levassem a melhor das vidas. Quando na realidade, talvez tentassem esquecer de suas vidas fodidas nem que fosse por um breve momento.


Me acomodei numa das cadeiras. Os shows se sucediam e as mulheres eram pouco ou nada inspiradoras. Já estava ficando entediado quando uma garota se levantou de uma das mesas e começou a gritar e girar o corpo como se fosse um peão ensandecido.
Percebendo meu espanto, alguém me disse "é normal, ela sempre incorpora, já já vai embora". Havia baixado a pomba gira na mulher, era só o que faltava. Estava na hora de eu também ir embora. Paguei a conta, virei as costas e parti, descendo as escadas em passos agora mais acelerados.

Por incrível que possa parecer, apesar de não ter comido ninguém pois eu não havia incorporado São Jorge naquele terreiro,  sai de lá mais leve. Havia poesia naquele lugar.


sábado, 21 de maio de 2011

O Filósofo Arrombado



Marcelo costumava perambular solitário pela noite, indo de bar em bar, de puteiro em puteiro, bebendo e metendo, não necessariamente nessa ordem, para esquecer dos infortúnios da vida. Nosso herói tem um filho que mora com sua ex-mulher, com quem manteve um relacionamento de final conturbado. Pegara sua esposa com outro na cama. O outro, ao contrário do clichê, não era seu melhor amigo mas seu pior inimigo, para aumentar ainda mais o tom melodramático da cena, que ficou guardada em sua memória perturbada.

Era uma noite quente de verão quando as luzes da escola pública em que lecionava Filosofia se apagaram, por ação de sabotagem de algum aluno vândalo, como era comum de acontecer naquela escola e em tantas outras escolas de bairros distantes. Imediatamente as aulas foram interrompidas fazendo com que Marcelo voltasse mais cedo para a casa, que ficava a poucos quarteirões da escola. Tomado por um mau pressentimento, Marcelo acelerou os passos, virou a esquina, andou mais um pouco ficando diante de sua casa. Virou a chave na porta e entrou. Da parte de cima da casa ouviu gemidos alucinados. Com o coração ritimado, subiu silenciosamente as escadas com passos cuidadosos. Chegando na parte de cima viu, ao abrir a porta do quarto, estarrecedora cena. Sua esposa, professora de educação infantil, posicionada de quatro sendo enraba por Heitor, seu algoz acadêmico, professor universitário de Filosofia, de umas das mais prestigiosas universidades. Ambos foram alunos na mesma turma, de início amigos, no final inimigos, suas carreiras profissionais tomaram rumos diferentes. Marcelo acusa Heitor de "furto intelectual", quando ambos concorriam a uma cadeira titular na universidade que fora conquistada por Heitor. Segundo Marcelo, Heitor lhe roubara a tese vencedora defendida por ele durante processo de seleção. Heitor ficou com a vaga enquanto Marcelo foi lecionar em escolas públicas da periferia.

Agora Heitor também lhe tomara a esposa, que gozava feito uma louca, diante de seus olhos incrédulos, ao ser enrabada com força e pegada pelo Heitor comedor, filósofo e fodão. Com o orgulho ferido, Marcelo largou sua esposa e passou a beber além da conta, o que lhe fez perder a guarda do filho. Esteve a ponto de ser exonerado da escola, acusado de lecionar alcoolizado. Desprovido de qualquer autoestima, passou a frequentar puteiros em busca de companhias, de bebidas e mulheres. Sem dinheiro, entrava em inferninhos baratos onde acabou se identificando com o ambiente e a decadência reinante na atmosfera desses lugares. A depressão aguda lhe trouxe problemas de ereção, então passava na companhia das putas conversando e bebendo, onde na maioria das vezes não transava. Pagava pelos serviços mas não usufruía dos prazeres da carne, apenas compartilhava com as garotas, histórias de vida tão ou mais trágicas que a dele. Eram horas de terapia barata de botequim regadas a muita bebida alcoolica. E a cada sessão o resultado era um buraco cada vez mais fundo cavado na sua alma ferida pela traição.

Até que um certo dia, Marcelo conheceu uma puta pela qual se apaixonou. A jovem garota, de 20 e poucos anos, tinha idade para ser sua filha, e uma beleza desgastada pela vida nada fácil da noite. Dona de uma melancolia peculiar, e uma bunda tão peculiar quanto, Samanta conquistou Marcelo, que expôs seus sentimentos a convidando para morar junto com ele em sua quitinete. A garota, comovida com o drama de nosso herói e ao mesmo tempo admirada pelo tipão inteligente dele, topou! E então foram morar juntos. Samanta era viciada em drogas, de início Marcelo apenas tolerava, mas logo passou a dividir o vício com a garota. Agora era definitivamente o fundo do poço, alcoolatra, drogado e corno. Marcelo, sem condições e disposição, abandonou as aulas e passou praticamente a viver as custas da garota, tal qual um gigolô imprestável.

No tempo ocioso que lhe sobrava, motivado pelas drogas talvez, Marcelo passou a refletir sobre a vida, dando vazão a sua veia filosófica que ainda lhe restara, e com o olhar perdido em algum ponto fixo do teto de sua Kit, fez-se a seguinte indagação:

Quem é o culpado? Quem caga na maçaneta ou quem abre a porta??

Depois de refletir alguns segundos sobre tão profunda questão, Marcelo conclui que a culpa total e absoluta pertence a quem abre a porta, pois o mundo é de quem sacaneia, esse é o jogo da vida, sacanear e ser sacaneado. Portanto, alguém tem que cagar na maçaneta para que o desatento suje a mão de merda. O mundo é dos espertos, pensou ele, e os otários são culpados por serem otários. No entanto, alguém cagou na maçaneta e Marcelo abriu a porta. Portanto, Marcelo pertencia ao time dos perdedores e frustrados e a culpa era dele e de mais ninguém.Era essa a conclusão dura e realista a que havia chegado, tinha a mão suja de merda cujo mau cheiro perturbava-lhe a alma ao mesmo tempo que os chifres pesavam em sua cabeça pensante de filósofo.  

Samanta estava entediada e então resolveu improvisar. Chegou em casa com uma sacola de onde sacou uma cinta-caralha, dispositivo composto por um pinto de borracha preso a uma cinta. Rindo alucinadamente, despiu-se e prendeu a cinta-caralha em sua cintura. Marcelo sempre fora conservador em termos de sexo do tipo que não topava praticas sexuais alternativas. Sua mente aberta de filósofo era obtusa quando o assunto era sexo. No entanto, como Marcelo estava todo fodido na vida, Samanta não encontrou  resistência para lhe foder literalmente. Botando Marcelo de quatro, enfiou-lhe o maranhão na bunda. Entorpecido, restou ao pobre infeliz submeter-se como um zumbi medonho aos caprichos diabólicos da prostituta. Que de salvadora transformara-se em megera arrombadora de cu virgem de filósofo bêbado e corno. Ao ser sodomizado, Marcelo sequer esboçava reação, aceitou tudo calado, com olhar perdido que só se mexia quando sua testa ia de encontro a parede a cada estocada mais forte desferida em seu cu, arrancando-lhe as pregas e entortando seus chifres.


Com o tempo Marcelo tomou gosto pela coisa a ponto de inovar as praticas boiolísticas, resolvendo então vestir-se de mulher, para espanto de Samanta. A inversão de papéis ganhou um ingrediente mais realista. As vezes Samanta chegava em casa e encontrava Marcelo vestido de peruca e saia usando suas calcinhas. Até que um dia Samanta se cansou de tudo isso, principalmente de sustentar Marcelo, e resolveu largá-lo. Desempregado e entregue aos vícios, aproveitou-se de sua nova fantasia sexual para prostituir-se. Botou scarpin nos pés, peruca e vestido e foi para esquina rodar bolsinha. Quando tinha um bom dinheiro guardado, Marcelo procurou um cirurgião. Colocou silicone nos peitos e na bunda, se transformando num verdadeiro travecão. Marcelo, então, tornou-se num dos travestis mais requisitados da boca. Agora Marcelo era Paloma Furacão, a diva pintosa.

Mas o destino, que lhe pregara as maiores peças, ainda lhe reservava a maior de todas. Certo dia Paloma estava fazendo ponto quando foi abordado por um cliente. O vidro do carro abriu e Paloma se aproximou o suficiente para ouvir a proposta. Alguns minutos de conversa e o programa estava fechado. Paloma entrou no carro que partiu. Foi quando Marcelo, ou melhor, Paloma, sentiu um calafrio lhe percorrer toda a espinha. Apesar de gordo e calvo, Paloma reconhecera o sujeito. Era ele. Heitor, seu algoz. De imediato, Paloma sentiu ódio profundo, para logo em seguida ser tomado pelo desespero. Por fim, Marcelo manteve a frieza e o controle necessários para que planejasse algo. Então, em poucos minutos, Marcelo tomou sua decisão guiado pelo desejo de vingança.Chegaram no hotel.

A maçaneta seria limpa.


No dia seguinte o noticiário trouxe a notícia de que um prestigioso professor universitário havia sido encontrado assassinado no quarto de um hotel barato, vitima de vários golpes desferidos por objeto pontiagudo. Seu corpo ensanguentado e sem vida vestia apenas uma calcinha vermelha, cheia de frufru. Na suas costas um V enorme, de viado, escrito em sangue.

Mesmo que tardiamente,a dor de corno estava vingada.